Um Japão estrangeiro e um estrangeiro no Japão – parte 2

Olá! Essa é a segunda parte da aventura do nosso amigo Denis Silva pelo Japão! Divirta-se!

Tóquio

Uma das maiores cidades do mundo tem um charme incrível. A modernidade grita em toda esquina, com seus prédios altos, seus letreiros coloridos, suas portas automáticas e sua gente apressada e determinada. Mas como toda megalópole desse tamanho, há tantas cidades ali dentro que é difícil descrevê-la de maneira geral. Me hospedei num hostel em Asakusa, perto do Senso-ji, o maior templo xinto da cidade e um dos locais mais sagrados dessa religião. De dia o local pode se tornar quase intransitável, mas para aqueles que tiveram a sorte (como eu) de estarem ali perto podem visitá-lo a qualquer hora da noite (o santuário xinto nunca é cercado por muros), aceso de cima a baixo e exibindo sua torre vermelha (pagode), maravilhosa.

Mas Tóquio tem muito mais que isso: gosta de animes e eletrônicos? Akihabara. Quer ver luxo e ostentação? Ginza. Quer ver uma cena mais alternativa, com um gosto bem eclético? Harajuku e Omestando (dica para saber como é: joga no Google: Takeshita dori). Quer dançar até cansar nas melhores casas noturnas do país? Roppongi. Quer se sentir apenas uma formiguinha? Shinjuku e Shibuya. Essa última parte é bem interessante. É muito fácil se perder por ali, ao passear por suas lojas que vendem todas as coisas possíveis, enquanto desvia de uma multidão que parece não ter fim.

Perto da estação de Shibuya fica a famosa estátua de Hachiko, uma cadelinha que ficou esperando o dono que não voltou mais (lembra daquele filme com o Richard Gere?). Ueno é um local mais tranquilo, com um grande museu que conta um pouco da história do Japão (vale muito a pena).

Em 2012 o governo japonês inaugurou a Tsukai Tsuri, ou Sky Tree, uma enorme torre de cerca de 650 metros, sobre a qual se tem uma vista inesquecível de Tóquio. De dia, se estiver bem claro, é possível avistar o icônico monte Fuji. À noite, porém, é show de luzes vem de toda a cidade. Vale a pena uma visita (ou duas, talvez haha).

Comida: ah… eu adoro comer e experimentar coisas novas! Para um comilão como eu, o Japão é um prato cheio, literalmente. E nem só de sushi vive o japonês, ele come udon, lamem (ou ramen, como chamam eles), grelhados, omeletes etc. Passa-se muito bem no país, obrigado. E forrar o estômago é o que há de menos preocupante em relação ao dinheiro, pois a comida tradicionalmente japonesa é barata e muito bem-feita. O único problema, como já disse, é que se corre o risco de comer algo que você desconhece totalmente o que seja… Mas há também os mercadinhos com guloseimas japonesas (já foram à Liberdade, em São Paulo?) e as máquinas de sucos em toda esquina. Agora, se você tem dificuldades ou restrições alimentares, a coisa fica um pouco mais difícil. É sempre bom pedir indicações de lugares para comer nos hotéis, assim você não corre o risco de passar mal e estragar os seus passeios.

Ryokan

Essas são hospedarias tradicionais japonesas e, na minha opinião, uma experiência obrigatória para os viajantes. São em geral estabelecimentos pequenos e familiares, mas que oferecem ao hóspede uma estada inesquecível. Passei uma noite no ryokan Sumiyoshi, em Takayama (só uma noite porque foi o que o orçamento permitiu), e foi mais ou menos assim: entrei no estabelecimento e fui recebido pelos tradicionais gritos de irashaimaseeeee (“bem-vindo”). A esposa do dono veio me receber e me levou diretamente para o meu quarto, tipicamente japonês, com uma vista para o riacho que corre pela cidade. Me fez sentar numa mesa baixa e, enquanto eu preenchia o cadastro, ela me serviu o melhor chá verde que eu já tomei. Depois ela me mostrou a hospedaria e me entregou a yukata (quimono casual usado muitas vezes para dormir). Saí para dar um passeio no pequeno vilarejo, famoso por suas destilarias de saquê, e depois retornei para o jantar. Mas antes disso, um banho no ofurô, com suas águas termais que recuperam qualquer corpo cansado. É normal sair do banho com a sensação de que você foi massageado e foi isso o que ocorreu. Voltei ao quarto já usando a yukata e cinco minutos depois, a esposa do dono e outra senhora me serviram o jantar (ou, devo dizer banquete?), com pratos típicos japoneses, crus e grelhados. Veja bem, não sei descrever o que comi, mas o gosto daquela refeição não saiu da minha memória! Como à noitinha o ryokan fecha para que a família que o administra possa se recolher, não tive muito o que fazer naquela noite, a não ser a companhia de um livro que sempre levo em qualquer viagem sozinho.

Numa última cortesia, o próprio dono da hospedaria veio arrumar a minha cama, ou melhor, o futon. Como vocês sabem, os japoneses tradicionalmente dormem “no chão”, ou melhor, sobre os futons, e ali não foi diferente. Na manhã seguinte, a esposa do dono veio me acordar (isso mesmo, você leu isso), mas, por uma boa razão: para servir um segundo banquete, agora matinal. Depois da comilança, já estava triste, porque a mordomia estava acabando. Na saída, o dono me agradeceu com um presente, um par de hashis vermelhos, lindos. Ele me acompanhou até a saída e enquanto eu me afastava relutante, ele se inclinava em saudação. Na esquina parei e fiz a minha própria reverência a essa gente boa. Que saudades do Japão!

Até a próxima!

Primeiro ano de Porta Amarela

“(…) if you have a story inside of you, I think you should share it.”
James Clear
Hoje, 24 de janeiro de 2016, completamos 1 ano de blog 🙂
Essa ideia tornou-se realidade há exatos 365 dias, quando resolvemos colocar o Porta Amarela no ar. Desde então, publicamos textos, fotos e vídeos de nossa autoria e de nossos amigos-colaboradores que compraram a ideia e nos apoiaram!
Através dessa incrível ferramenta, tivemos a oportunidade de conhecer pessoas sensacionais que direta ou indiretamente contribuíram para o crescimento e amadurecimento do blog (e do nosso também!).
O principal objetivo do Porta sempre foi compartilhar experiências para que mais pessoas sintam-se inspiradas a “sair da caixinha” e buscar novos conhecimentos, que as engrandeçam e que abram seus horizontes.
O blog existe porque acreditamos no poder transformador de uma viagem.
Acreditamos que os obstáculos do percurso são nossos maiores professores e lições aprendidas em viagens são pra vida toda.
Acreditamos que, não importa a distância percorrida ou por quanto tempo estivemos viajando, no fim do dia teremos sempre uma boa história pra contar.
Acreditamos que a própria viagem é tão importante quanto o seu destino e que devemos estar sempre atentos às oportunidades que nos são dadas.
Acreditamos que a melhor foto de uma viagem é aquela que guardamos na memória da alma, não do celular.
Acreditamos que é o seu olhar que torna uma viagem atrativa e agradável e não a quantidade de estrelas do hotel.
Acreditamos que viajar com amigos pode ser tão importante para o nosso autoconhecimento quanto viajar sozinho.
Acreditamos que uma mochila cheia de experiências é o mais rico presente que podemos levar pra casa e que partilha-lo é fundamental.
A todos que nesse primeiro ano nos apoiaram, elogiaram, criticaram, colaboraram, leram, compartilharam – nossos sinceros agradecimentos! Que essa parceria perdure por muito tempo, pois nos enche de alegria criar um conteúdo em que acreditamos.
Esperamos que você, ao ler um dos nossos posts, sinta-se inspirado a abrir novas portas. A nossa porta amarela está sempre aberta. Entre e fique a vontade!
Um grande beijo, Mari e Carol.
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24/01/2015
(agradecimentos especiais aos que colaboraram com textos e histórias em 2015: Aline Vallilo, Talita Guedes, Fernando Alves, Felipe Vazami, Klaudia Alvarez, Basilio Oliveira, Mirtes Miranda, Tais Amaral, Douglas Cardoso, Marcela Pereira, Carol Ventura, Eliana Frezzato, Denis Silva, Gisele Alcântara, Belinha Araújo, Luiz Sebastião)

Um Japão estrangeiro e um estrangeiro no Japão – parte 1

por Denis Silva

O texto nem começou e eu já usei a palavra estrangeiro duas vezes (ops, três!), por quê? Porque talvez essa seja a sensação mais marcante de uma viagem ao arquipélago mais distante do mundo (pelo menos para nós brasileiros!). Entrar num trem do enorme metrô de Tóquio e perceber que você é o único estrangeiro e que todos sabem disso, procurar um lugar para comer em Quioto e ter de se arriscar com um prato que você não faz ideia do que seja, receber presentes e favores de pessoas desconhecidas e ficar sem saber como agir, perder-se por ruas cujo nome você não sabe ou não consegue ler, embarcar num trem ridiculamente pontual, tudo isso faz parte dos prazeres de viajar por esse país maravilhoso!

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Creio que sete anos seriam suficientes para conhecer tudo que há nesse país, mas, como isso não é possível para quase todos, comento a seguir algumas coisas de que mais gostei na Terra do Sol Nascente.

Quioto:

Com seu bairro de gueishas (cuja elegância, aliás, é de cair o queixo) e seus enormes templos, a antiga capital do império é um mar de atrações para japoneses e estrangeiros, então prepare-se para dividir cada centímetro com os animadíssimos turistas japoneses. Na chamada montanha oriental (Higashiyama), há tantos templos budistas e xinto (as duas religiões do país), que é impossível ver todos. A dica aqui é pegar um mapa, rasgá-lo em mil pedacinhos (só não os jogue no chão, onegai), afinal você vai se perder de qualquer jeito, e caminhar nas ruas estreitas, com casas de madeira, de vez em quando parando para contemplar seus templos, pagodes, jardins, puxadores de riquixá (carroças puxadas a mão) e gueishas. Não deixe de entrar nas lojinhas de presentes e quem sabe tomar um sorvete ou comer um docinho de feijão, enquanto descansa.

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Disse que é bom e legal se perder em Higashiyama, mas há coisas tão belas e interessantes que vale a pena o esforço de procurar por algumas delas. O exemplo mais for-God’s-sake-you-must-see-it é o Kiyomizu-dera, templo budista cuja construção data do século XVII e apresenta uma varanda enorme sustentada por colunas que se projetam em direção à cidade, e o Kinkaku-ji, ou pavilhão dourado, que resplandece sobre as águas de um pequeno lago ao seu redor, com jardim japonês.

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Esses provavelmente não são os lugares mais contemplativos (pois há muita gente), mas com um pouco de tempo e paciência, você consegue encontrar um lugar tranquilo para sentar, observar e meditar.

Arashiyama, por sua vez, é uma região a oeste de Quioto. Depois de descer de um pequeno trenzinho, você se sente como se tivesse voltado no tempo! As ruas largas ao redor do rio, o cheiro da vegetação, o barulho dos sininhos de vento, o ar fresco, tudo isso nos transporta para uma era em que a opção era a vida simples. Se for visitar o vilarejo, não deixe de passar no Monkey Park Iwatayama, uma reserva de preservação do macaco japonês. Lá é possível alimentar os bichinhos enquanto observa toda a cidade de uma posição privilegiada. Caminhe um pouco mais até o centro da vila e de lá passeie por um bosque de bambus. Lá o vento forma uma verdadeira música nos galhos das árvores.

Semana que vem tem a segunda parte dessa viagem, não perde!

Um fim de semana em Paranapiacaba

Era uma vez 3 amigas que queriam passar um fim de semana longe de tudo para descansar e divagar sobre a vida. Paranapiacaba surgiu num insight. Não nos arrependemos! Essa vila charmosa de gente bacana foi o lugar ideal para dois dias de descanso e muitas risadas (além de caber no orçamento de final de ano).

Como chegar?

Nossa jornada começou por trem e taxi. Pegamos a linha Esmeralda da CPTM, do Brás até Rio Grande da Serra (R$3,50). Em Rio Grande pegamos um taxi por orientação do funcionário da hospedaria (o ônibus urbano para na parte alta da vila e a hospedaria fica na parte baixa). Pagamos R$50, mas dividimos por 3, então não ficou pesado. Importante se informar na hospedaria que você escolher qual a melhor forma de chegar.

Hospedagem

Ficamos na simpática hospedaria Os Memorialistas. Ela é composta por 6 quartos na parte de cima e um restaurante/bar na parte de baixo – o Cavern Club. Tudo limpinho e caprichado (com roupão e chinelinho para cada hóspede). Uma característica da vila é que todas as hospedarias possuem banheiros compartilhados devido ao tombamento patrimonial das casas. Mas sem estresse! Sobrevivemos e quebramos esse paradigma rs. Os donos da hospedagem – dona Zelia e seu Pedro – fazem da sua estadia na vila a mais agradável possível. Muito atenciosos e fazendo nossas vontades no café da manhã (vai ter tapioca amanhã?). Também servem jantar, pago a parte.

A diária saiu por R$290 (duas diárias, R$580) dividido por 3 (mais ou menos 196 reais), com café da manhã incluso. O valor médio do jantar fica por volta de R$45 por pessoa.

Alimentação

Nesse quesito vale uma pesquisada para ver qual local fica próximo da hospedagem que você for ficar. No nosso caso, paramos num pequeno restaurante chamado Beija Flor para almoçar. Comida caseira e em conta: coma a vontade por R$18. No jantar, como já dissemos, optamos pela nossa hospedaria.

Passeios

Optamos por fazer uma trilha para desfrutar das belezas naturais da vila. Procuramos uma guia credenciada para a aventura. Escolhemos a trilha do Mirante, de dificuldade média, com duração de 1 hora (uma pra ir e uma pra voltar). Tivemos a imensa sorte de ter como guia a Iva! Simpatia pura e que disposição! O dia estava lindo e a vista é demais, conseguimos ver outras cidades de lá. Voltamos cansadas e satisfeitas! O valor por pessoa pra fazer a trilha é de R$30.

Adoramos Paranapiacaba e pretendemos voltar para fazer outras trilhas e descobrir novas histórias. Esperamos que você aproveite tanto quanto nós aproveitamos. Até a próxima!

Mari, Carol e Aline

Observação: os valores apresentados são de Dezembro/2015. Confirme os valores antes de agendar sua viagem.

 

Passeios em Sampa: CCBB

por Mari Ortiz

Dica de passeio pra quem estiver em Sampa nas festas!

Até 04 de janeiro de 2016 (segunda feira) acontece a mostra ComCiência da artista australiana Patricia Piccinini. As obras hiper-realistas nos apresenta um futuro possível em que criaturas modificadas geneticamente convivem com seres humanos.


Onde? No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB SP), bem no centro de São Paulo. Eu costumo descer na Sé e caminho até lá (no máximo 3 minutinhos).

Entrada. Para evitar as longas filas que frequentemente aconteciam (peguei 5 horas de fila para ver Picasso, por exemplo) o CCBB está com um esquema ótimo de ingressos por agendamento. Você entra no site do ingressorapido.com.br e escolhe o horário que pretende visitar a mostra. Outro jeito é baixar o aplicativo do evento (disponível para Android e ios) e fazer o agendamento. A entrada é gratuita.


Fácil né? Fora que o prédio do Centro Cultural é um deslumbre, super recomendo a visita. A programação também conta com mostras de cinema, teatro e apresentações musicais. Confira a programação completa aqui.

Aproveite esse restinho de ano para fazer um passeio cultural no centro histórico de São Paulo ou começar 2016 com o pé direito.

Beijos e feliz ano novo!

Um pouquinho da nossa aventura…

O Porta Amarela passou o fim de semana em Paranapiacaba (vila pertencente a cidade de Santo André-SP)!

No Instagram tem um pouquinho da nossa aventura em Paranapiacaba. Em breve, roteiro😉.

Segue a gente @portaamarela5

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A tour misteriosa da Vila Madalena

por Klaudia Alvarez

Sem dúvida nenhuma os bairros adquirem  as características que seus moradores imprimem a eles. Reduto de artistas plásticos e local com muitos bares, restaurantes e galerias de arte, a Vila Madalena é um dos destinos mais charmosos de São Paulo a ser explorado.

Outra certeza absoluta, é dizer que o melhor jeito de conhecer um lugar e explorar com calma todas as suas potencialidades é à pé. Vi, em uma matéria no Catraca Livre, que todos os sábados, a partir de meio-dia, havia uma tour guiada, que partia da Rua Filipe de Alcaçova, 289 no Empanadas Bar.
Animada,  me dirigi ao endereço fornecido para fazer a tal tour guiada e conhecer todos os lugares tão charmosos que eu observava, mas de longe, só passando de carro.  Para minha surpresa, o número indicado da rua não existe. Ela termina no número 71. O Empanadas Bar fica na Wisard e não na Filipe de Alcaçova e ele estava fechado. Mesmo perguntando a vários comerciantes da região de onde partia a tal tour guiada,  não consegui nenhuma informação. Não me dei por vencida e decidi fazer eu mesma, sozinha, a minha tour pelo bairro.
Munida de uma garrafinha de água mineral e muita disposição para enfrentar ladeiras, escadas e calçadas desniveladas, parti para explorar toda a graça desse bairro incrível.

 Uma das coisas que mais chama atenção na Vila Madalena,  é a quantidade de pinturas, no estilo grafite, mas de muita qualidade, que se encontra pelas paredes, muros de casas e portas de lojas. Outro detalhe de muito bom gosto são as floreiras recicláveis nos postes de iluminação.

O charme maior porém está nos cantinhos,  nas ruas com nomes poéticos como Harmonia, Girassol…Residências e prédios comerciais dividem o espaço com lojinhas alternativas, galerias de arte e muitos restaurantes e pubs.
Na porta de um restaurante me deparei com uma performance alternativa e mais adiante parei para observar os degraus coloridos de uma escadaria.

Foram mais de três horas de caminhada pelo bairro, o que me deu uma boa ideia dos muitos atrativos que ele tem a oferecer, não só aos turistas como eu, mas principalmente ao paulistano, que lota os bares e pubs da Vila Madalena diariamente.  O Carnaval de rua, com seus blocos, também é muito famoso.

Recomendo demais esse passeio delicioso pelas ruas da Vila Madalena.  Quem conseguir descobrir de onde parte a tal tour guiada misteriosa, por favor avise, porque eu adoraria refazer o passeio, mas conhecendo também detalhes e a história por trás do que explorei sozinha nesse sábado.

Azul e Vermelho

As cores azul e vermelho atraem meu olhar aonde quer que eu esteja. Da última vez, estava numa loja de decoração, daquelas com vários ambientes montados. Parei por vários minutos em um deles, um quarto cheio de almofadas com uma única temática: Reino Unido. As bandeirolas, soldadinhos e qualquer outra coisa que remetesse às cores da terra da rainha estavam nesse quarto. Meu tio, intrigado, comentou: mas você gosta disso mesmo né?

Gosto. Gosto mesmo e gosto muito.

Coloquei minhas pequenas células cinzentas pra funcionar: quando foi que cismei com essa história de Reino Unido (mais precisamente, a Inglaterra)? Pois bem, foi culpa de um belga. Estranho? Explico.

Iniciei minhas leituras de Agatha Christie por volta dos 14. O primeiro foi “O Natal de Poirot” e justamente o personagem do título, esse belga residente em Londres, que me conquistou.

Hercule Poirot é um ex-detetive e principal personagem dos livros da senhora do crime (sim, ele “é”, porque ele existe!). Quem já leu sabe como as tramas de seus livros, mesmo os de contos bem curtos, são envolventes e desafiadoras. Mas o charme e a graça estão nesse senhor de bigodes e cabeça de ovo.

Tentando desvendar crimes complexos, Poirot explora a Inglaterra, seus vilarejos, povoados, analisa pessoas e nos apresenta um panorama sobre o modo de vida britânico pelo olhar de um estrangeiro. Não existem meias palavras para Poirot: ele expõe seus anfitriões, seus pontos fortes e fracos, a verdade nua e crua.

No exercício fantástico de imaginação que a leitura de livros nos proporciona, criei em mim minha própria Inglaterra, ou melhor, a Inglaterra aos olhos de um belga (que foi criado por uma inglesa), seu encantamento, sotaque, praças, museus, ruas, avenidas… E me apaixonei.

Conhecer Londres, pra mim, foi o ápice do maravilhamento (se é que essa palavra existe). Foram só dois dias, mas como mensurar em métrica o imensurável prazer de realizar uma fantasia?

Obviamente, não foi o suficiente. Longe disso! Mas posso dizer que sonhos se realizam, é lindo de sentir. Sonho que sonhei pelos livros. Pelo olhar de uma inglesa, na perspectiva de um belga, um estrangeiro. A estrangeira que fui, na terra que eu amei antes de conhecer.

Sim, eu gosto muito mesmo do Reino Unido, da Inglaterra, de Londres, das cores azul e vermelho, de bandeirolas e soldadinhos, de Agatha Christie e de monsieur Poirot. Eles me abriram os olhos para o mundo, e serei eternamente grata por isso.